Bancos públicos deveriam ser utilizados como reguladores do mercado, reduzindo as taxas a níveis aceitáveis
Os especialistas são unânimes ao
afirmarem que existe um gargalo de crédito no mercado e que somente com
o aumento do investimento no setor produtivo a economia voltará a
crescer de forma sustentável. Os bancos alegam que o crédito está
disponível, mas não existe demanda. “Com as altas taxas cobradas pelas
instituições financeiras, o custo do capital é proibitivo. Não vai haver
demanda nunca”, critica Juvandia Moreira, presidenta da Confederação
Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
Mesmo com a redução da Selic (taxa referencial do Sistema Especial de
Liquidação e Custódia para títulos federais), que baixou para 6,5% ao
ano na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), as
taxas cobradas pelos bancos continuam sendo absurdas. No cheque
especial, a taxa média de juros cobrada pelos bancos fechou fevereiro em
331,2% ao ano.
Em média, o spread bancário (a diferença entre o custo do dinheiro
para o banco –o quanto ele paga ao tomar empréstimo– e o quanto ele
cobra para o consumidor na operação de crédito) no Brasil é acima de
20%. Em outubro de 2015, com a Selic em 14,25%, o spread médio era de
19,6%. Em fevereiro de 2018, quando a Selic já está em 6,5%, o spread
médio tinha aumentado ainda mais, chegando a 20,4% ao ano.
“No Brasil, os bancos lucram em todos os cenários: com crise, ou sem
crise. Com a Selic baixa, ou alta. Eles comandam o mercado de capitais a
seu bel-prazer, sem ser incomodados pelo governo, que é transformado em
seu serviçal”, afirmou a presidenta da Contraf-CUT. “Os bancos públicos
deveriam ser utilizados como reguladores do mercado, reduzindo as taxas
a níveis aceitáveis. A presidenta Dilma reduziu as taxas cobradas pelos
bancos públicos. Com taxas justas, as empresas buscaram crédito e os
bancos públicos ganharam mercado. Este seja, talvez, o principal motivo
que levou à sua queda”, observou.
Para Juvandia, a “recomendação de prudência” e a “boa gestão de
risco” feita pelo novo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, às
instituições financeiras estatais, representa a continuidade do desvio
do papel dos bancos públicos e a continuidade da crise econômica no
país.
“O governo teria que baixar as taxas de juros e as tarifas cobradas
pelos bancos públicos para tentar recuperar a economia. Mas, está
fazendo o contrário. A Caixa, por exemplo, não é mais o banco com a
menor tarifa do financiamento imobiliário. Os bancos públicos não
recebem mais aportes de capital para poder emprestar e ajudar o país e
se desenvolver. O que estão fazendo é abrir espaço para que os bancos
privados assumam o mercado. Estão tornando os bancos públicos
desnecessários”, explicou a presidenta da Contraf-CUT.
“O governo está seguindo à risca às recomendações dos economistas que
são pagos pelos bancos privados para dizer que não é papel dos bancos
públicos conceder crédito para incentivar o desenvolvimento econômico.
Querem tirar os públicos do caminho deles para cobrar o quanto
quiserem”, concluiu.
Fonte: Contraf-CUT